Maria Paulina, 72 anos, teve uma trajetória de vida marcada pela superação e dedicação à sua comunidade. Nascida e criada em condições humildes, ela passou parte da sua infância em uma instituição de freiras, onde teve o primeiro contato com exemplos de doação e caridade. Aos 7 anos, foi internada por sua mãe para protegê-la da violência do pai, permanecendo até os 14 anos. Após essa fase, Maria Paulina começou a trabalhar como empregada de limpeza em um hospital e, mais tarde, se aventurou no comércio, vendendo marmitas, lanches e gelados. Nesse período, ela adotou sua primeira filha, Lurdes, uma jovem de 17 anos que dormia nas ruas.
Com o tempo, Maria Paulina, carinhosamente conhecida como “Vó Tutu”, expandiu sua família adotiva, que inclui quatro filhos adotivos e seis biológicos, além de 26 netos e 9 bisnetos. Na Brasilândia, bairro periférico de São Paulo onde vive, ela se destacou pela solidariedade, promovendo festas de aniversário para crianças desfavorecidas, apoiando idosos e organizando palestras sobre Alzheimer, uma condição que afetou sua mãe. Sempre com o sonho de abrir um restaurante, ela viu esse desejo ser concretizado em 2019, quando um de seus filhos alugou um espaço para ela e o nomeou “Cantinho da Vovó Tutu”. No entanto, o restaurante não durou um ano devido à pandemia.
Durante a crise sanitária, com a conscientização do impacto da pandemia na periferia, Vó Tutu iniciou uma ação solidária, passando a produzir entre 100 e 200 pães por dia, utilizando cerca de 18 quilos de massa batida à mão. Com o auxílio de seus netos, a história de Maria Paulina foi registrada em um vídeo que viralizou nas redes sociais. A solidariedade gerada pela publicação foi imensa, com contribuições de pessoas de diversas localidades, incluindo figuras públicas como o apresentador Luciano Huck, a chef Paola Carosella e a jornalista Ana Paula Padrão.
A partir dessa ação, nasceu o Instituto Vovó Tutu, que inicialmente atendia 130 famílias e visava a criação de uma escola de panificação e confeitaria para ensinar mães e crianças a gerar sua própria renda. Hoje, a organização realiza eventos para levantar fundos, aumenta a produção para dois mil pães e distribui alimentos, produtos de higiene e oferece cursos de capacitação profissional, continuando a fazer diferença na vida de muitas pessoas na Brasilândia.