Djô da Silva

José da Silva

José da Silva, conhecido como Djô da Silva, é uma figura emblemática na música cabo-verdiana. Nasceu na Praia, na Fazenda, mas passou grande parte da sua infância no Senegal. Aos 13 anos, mudou-se para França com a mãe e, mais tarde, interrompeu os estudos. em Gestão para cumprir o serviço militar obrigatório.

Com o sonho de conhecer a terra onde os pais nasceram, trabalhava nas férias para economizar o suficiente para poder finalmente pisar o chão de Cabo Verde, o que viria a acontecer mais tarde.

Entretanto, iniciou uma carreira nos caminhos de ferro franceses, mas a paixão pela música levou-o a fundar uma banda. Em Paris, conheceu uma associação de cabo-verdianos com os quais costumava jogar futebol aos fins de semana. Através desta associação, passou a frequentar as festas e as noites musicais que regularmente eram organizadas. Numa dessas festas, começou timidamente a tocar bombo. Com amigos dessas festas, criou a banda Sound of Cape, onde atuava como manager e produtor. Entre 1983 e 85, gravaram três discos.

Em 1985, os Sound of Cape eram já uma banda conhecida e famosa que ocupava cada vez mais tempo aos seus membros. Fruto do sucesso e dos muitos contratos que todos os meses José da Silva ia angariando, numa reunião, decidiram por unanimidade pôr termo ao projeto, uma vez que as frequentes ausências começavam já a criar problemas no seio familiar de muitos dos seus membros.

Manu Lima, líder do grupo Cabo Verde Show, ao tomar conhecimento do desaparecimento dos Sound of Cape, prontamente convida José da Silva para gerir o grupo. Em 1986, José da Silva vai até Cabo Verde para organizar uma digressão dos Cabo Verde Show por várias ilhas do arquipélago, concretizando um sonho esperado por muito tempo. Durante essa tour, conhece Luís Morais e Cesária, embora tenha tido pouca oportunidade de ouvir Cesária cantar.

No ano seguinte, de férias com a esposa em Lisboa, Djô entra num bar frequentado por cabo-verdianos e depara-se com Cesária Évora a cantar. Apesar de terem-se encontrado antes em São Vicente, na época não se lembrou desse encontro. No fim da performance, decidido a conhecê-la melhor, José da Silva descobre que Cesária não possui contrato ou perspetivas de carreira. Estava de volta a Cabo Verde no dia seguinte, desanimada após vir a Portugal com esperanças que não se concretizaram. Com conexões em Paris, o empresário oferece ajuda a Cesária.

O seu encontro com Cesária Évora marcou um ponto crucial na sua vida profissional. Ao ajudar a projetar a carreira da artista, Djô da Silva alcançou reconhecimento internacional. A parceria levou-o à produção do álbum Mar Azul, um marco na história da música cabo-verdiana.

O envolvimento de Djô da Silva não se limitou à música cabo-verdiana; expandiu os seus horizontes para a música cubana, passando uma década em Cuba, gravando mais de 20 álbuns.

Sempre foi um defensor da morna, expressando o seu desejo de ver o género continuar a ser uma representação fiel da música cabo-verdiana, além de enfatizar a importância da adaptação às novas tecnologias na indústria musical e a necessidade de os músicos se profissionalizarem.

Durante cinco anos, José da Silva foi o organizador do Festival da Baía das Gatas em São Vicente e por dois anos do Festival da Ilha do Sal. Após a morte de Cesária Évora, intensificou o seu compromisso com música cabo-verdiana, transformando o seu trabalho numa missão pessoal. Reconhecendo o impacto da cultura na sua própria vida, sentiu a responsabilidade de retribuir ao país. Decidiu, então, aplicar o conhecimento adquirido ao longo dos anos de trabalho na área cultural em prol de Cabo Verde.

Duas das suas notáveis iniciativas são o Atlantic Music Expo e o Kriol Jazz Festival, concebidos com um denominador comum, a crioulidade, em colaboração com o então ministro da Cultura, Mário Lúcio. Estes eventos começaram a render frutos, elevando Cabo Verde ao cenário internacional da world music.

Em 2023 e na sua 12ª edição, a cidade da Praia voltou a juntar o Atlantic Music Expo (AME) e o Kriol Jazz Festival, depois da edição do AME de 2022 ter decorrido sem o evento tradicionalmente contíguo, o Kriol Jazz Festival.

O AME é atualmente um reputado evento, virado para negócios no campo musical, onde se encontram profissionais da área musical, sejam produtores, diretores de festivais ou jornalistas internacionais, para assistir a conferências, workshops e showcases onde artistas de vários continentes atuam nos palcos da capital cabo-verdiana. O Kriol Jazz Fest, mais focado na atuação de jazz e músicas do mundo, está também inscrito no cenário internacional como um evento de relevo.